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Entrevista:Indayara Moyano e Estela Homem (Infect)
por Ricardo Tibiu (tibiu@karasukiller.com | www.chiveta.wordpress.com)
publicada originalmente na DOLL (Japão) Nº257
12/2008

Infectando o mundo!
Algumas bandas mantêm-se em atividade por longos anos e, às vezes, mesmo assim são pouco lembradas. Mas o contrário também acontece, as meninas do Infect, banda brasileira oriunda de São Paulo, é um destes casos. Formada em 1998, depois de alguns lançamentos e apenas cinco anos na estrada, em 2003 elas decidiram colocar um ponto final na banda. Apesar disso, o número de admiradores dentro e fora do Brasil não parou de crescer e o recente lançamento do CD “Discography” (2008), pela 625, ajudou a banda a continuar a infectar o mundo. Conversamos com as fundadoras, a ex-vocalista Indayara Moyano e a ex-baterista Estela Homem, que nos contou um pouco sobre a história da banda.

O que levou vocês a formarem o Infect e quais eram as principais influências?
Indayara: Eu já era amiga da Estela, que na época tocava com o Dominatrix, ela passou um tempo na Inglaterra estudando e nos correspondíamos sempre, assim que ela voltou pensamos em montar uma banda, pela falta de bandas femininas na época e também para conseguir expressar nossos pensamentos. E assim a Tatiana, a Bianca e a Juliana também compartilhavam da mesma vontade e idéia. O legal do Infect é que cada uma tem uma influência. Eu posso dizer sobre as minhas, que sempre foram os punks: Olho Seco, Cólera, Lärm, Spitboy, Heresy, Vice Squad, Detestation, Bikini Kill, Ulster, Grinders, Mercenárias, entre outras.
Estela: Nós queríamos ter uma banda de hardcore rápido e gritado. Na época, as bandas de meninas eram todas “leves” – eu costumava chamá-las de “lalalás” – e as meninas simplesmente não tocavam outro tipo de som. Claro que tinha o lado político, a vontade de reclamar, mas a maneira que a gente soava importava muito também. Nossa influências eram: hardcore americano anos 80 (Circle Jerks, SSD, 7 Seconds, Minor Threat etc), bandas do hardcore europeu como Heresy, Lärm, Seein' Red etc. Punk Rock genérico como Ramones e Clash e muitas outras coisas. Ouvíamos muitos sons variados, bandas antigas e novas. Sempre!

Antes do Infect vocês tocavam em outras bandas?
Indayara: Eu era vocalista do Menstruação Anárquica quando tinha 15 anos, depois tive outra banda que se chamava Anti S com o pessoal do ABC, minha cidade.
Estela: Eu toquei no Dominatrix, no Butchers' Orchestra e em outras que não tiveram tanta expressão como essas. A Indayara cantou no Menstruação Anárquica, a Tatiana tocava com o TPM, e depois do Infect teve um milhão de bandas, como: No Violence, I Shot Cyrus, As Mercedes etc. A Bianca e a Juliana nunca tinham tido bandas, mas ambas tocam até hoje.

Vocês costumavam usar o termo “pintocore” pra denominar o som de vocês. Qual seria a melhor definição para a música do Infect?
Indayara: Essa história do pintocore era uma brincadeira com algumas bandas separatistas da época. O que rolava era espontâneo na minha opinião, vomitar aquilo que não nos agradava, mostrar através das músicas o que queríamos que mudasse.
Estela: Essa mesma! (risos). Como eu coloquei no nosso MySpace: “Angry (punk) Women on a Bad Day”.

O Infect dividiu o palco com várias bandas, além de splits, quais vocês poderiam destacar?
Indayara: Eu gostei de tocar com o Riistetyt, Ratos de Porão, com o Ariel, do Restos de Nada, com o Cólera e o Discarga que amo até hoje.Foi uma época muito bacana.
Estela: Posso falar por mim, sabe? Eu gostei muito de ter tocado/conhecido o pessoal do What Happens Next?, Catharsis, MDC, Força Macabra e daqui, foi legal tocar com todo mundo. Agora, é claro que existe um “peso”, uma honra, um prazer de ter dividido o palco com os clássicos do punk rock brasileiro mais tradicional, se é que eu posso colocar dessa forma: Ratos de Porão, Cólera, Condutores de Cadáver, Restos de Nada, Invasores de Cérebros etc. Tocamos em diversos festivais punks que eram demais, eu adorava! E tocar com os amigos também era bom. Sempre gostei de fazer show com o Discarga.

Qual o balanço que vocês fazem destes cincos anos em atividade?
Indayara: O punk é muito forte e sempre vai ser, o hardcore apesar de um pouco elitista também tem se mostrado diferente nos últimos tempos. Eu sou de uma época em que punk era diferente de hardcore para a maioria das pessoas do meio. Eu sempre acreditei que as coisas andam juntas. O punk é o pai do hardcore e, na minha cabeça, não existe separação. Fico feliz de ter feito parte da história.
Estela: Nossa! Foram anos excelentes! Viajamos, lançamos registros – entre EPs, CDs, 7", 12", fitas demo –, conhecemos muitas pessoas, tivemos a oportunidade de fazer coisas, de estar em lugares que talvez, sem a banda, nunca tivéssemos feito, visitado, conhecido.

Contem para os japoneses quais foram e são os projetos que vocês tiveram ou têm depois que o Infect acabou.
Indayara: Eu cantei algumas músicas com o Merda, dei uns gritinhos com Os Pedrero, fiz participação no vinil do Mukeka di Rato com o Vivisick, mas não rolou, depois do Infect não tive coragem de encarar nenhum projeto. Passei a produzir shows e vídeos, sempre penso em voltar, quem sabe daqui alguns anos. Fiz uma participação como atriz/berros no “Encarnação do Demônio”, o novo filme do Zé do Caixão. O filme é uma mistura gore interessante. Assistam aí!
Estela: Eu estou sem banda, toco com os amigos só por diversão. A Tatiana teve as Mercedes e está sempre com um monte de bandas, nem sei. A Juliana teve/tem o War Inside e ainda tem bandas, mas não sei os nomes. A Bianca toca no Arma Laranja e ouvi dizer que pretende começar um projeto novo. A Indayara não está em banda, mas ela produz muitos shows.

As letras do Infect falavam sobre desigualdade social e continham críticas políticas, assim como ao machismo, à homofobia e até mesmo a algumas atitudes dentro do próprio hardcore. Vocês acham que elas continuam atuais?
Indayara: Como falei antes, acho que mudou bastante, mas ainda temos algumas raízes preconceituosas dentro de qualquer cena. Acho que estes temas vão ser sempre atuais, as coisas não mudam completamente, o que acontece, na minha opinião, é que quando você joga uma idéia você faz com que as pessoas reflitam e com isso caminhem para uma mudança. Muita coisa ainda tem que mudar, eu acredito que estamos no caminho.
Estela: Acredito que sim. Uma ou outra talvez não faça mais tanto sentido pra nós, porque mudamos, estamos mais velhas e nossos conceitos mudam de acordo com as informações que recebemos. Acho que todo mundo tem um quebra-cabeça pra montar na vida e conforme os anos passam, vamos ganhando mais e mais pecinhas. Acho que existem letras que já não nos tocam tanto, mas com certeza fazem sentido para outra pessoa. Cada um tem um caminho pra trilhar e o que é bom pra você talvez não seja mais bom pra mim e vice-versa.

Apesar de o Brasil ter, proporcionalmente, poucas bandas femininas, algumas, como Mercenárias, Dominatrix, TPM, Infect e Bulimia, persistiram e conseguiram se destacar, conquistando um público fiel e deixando seus nomes na história do punk/underground brasileiro. Quais são as principais dificuldades de uma banda feminina num país machista como o Brasil?
Indayara: Acho que é o machismo mesmo, os caras olham um bando de garotas querendo tocar e não conseguem dar destaque à verdadeira intenção. Já sofremos com alguns ataques até físicos (risos). A sorte é que a banda já estava preparada para esse tipo de situação e isso nunca abalou nossa intenção que era tocar e dizer “foda-se” mesmo para aquele bando de caras babacas que não entendiam nada sobre atitude punk e se bancavam hardcoreanos.
Estela: Todas que você possa imaginar! A falta de respeito e dúvida vem desde o vendedor na loja de instrumentos musicais até o cara do som do clube, que não te ouve e não faz o que você pede. Tivemos diversos momentos tensos na nossa existência. Já enfrentamos platéias hostis que se sentiam, de alguma forma, ofendidas pelo fato de sermos mulheres, mas claro que encontramos platéias maravilhosas em lugares inusitados também.

A 625 Thrash lançou recentemente um CD com a discografia de vocês, já deu tempo de rolar alguma resposta com relação a isso?
Indayara: Tem rolado sim, muita gente comentando, inclusive no Japão a Revista Doll!
Estela: Sim! Sim! As pessoas nunca pararam de me escrever. Aliás, tem gente ao redor do mundo que pensa que a banda está na ativa ainda, mesmo eu tendo colocado na capa da discografia “Infect RIP 1998-2003”, as pessoas não se convencem! Desde antes do disco sair as pessoas comentam sobre ele. Teve gente que comprou pela Ebullition e me escreveu pra contar, mas na verdade eles acabaram me dando a notícia do lançamento do disco, porque conseguiram o disco antes de mim! (risos).

O Kenji, da Doll, me disse que no Japão há muita gente que ainda gosta do Infect. A quê, vocês acham, que se deve isso?
Estela: Não tenho idéia! Não é só por lá. Tem muito americano que me escreve e isso é super pitoresco porque cantávamos em português e os americanos, costumava-se pensar, “só” gostam de bandas que cantam em inglês! Muita gente da Indonésia, da Malásia, da Ásia em geral, curte a banda. Isso é muito legal e muito inusitado também. Porque eles gostam... não sei!
Indayara: Também não sei , sei que quando o Vivisick veio até o Brasil fotografei a tour e fiquei feliz quando o Yuki me disse que conhecia o Infect, foi uma emoção! O Vivisick é uma banda muito foda, os caras são uns amores e adorei conhecê-los. Tenho uma admiração e respeito pela cultura japonesa que vem desde sempre. Não sei explicar, gosto muito da criatividade e do jeito extremo dos japoneses , tudo o que eles fazem é perfeito. Hardcore japonês então é inacreditável.

E o quê vocês conhecem lá do Japão?
Indayara: Eu conheço os caras do Vivisick! Aproveito para deixar um abraço a estes queridos amigos. Curto também psycho japonês, tipo The Saddle Kick, Spiderz, Cracks, as famosas 5678´s, as histórias de samurais, as gueixas, o mundo maravilhoso e extremo da Yakuza. Bom, eu amo o colorido da comida, a perfeição dos detalhes, tudo é bem delicado e feliz. O Japão me parece um lugar familiar. Aaaaaaah, sem esquecer que o melhor filme gore que assisti, sem dúvida foi o “Tetsuo: The Iron Man”, obrigada Tsukamoto Shinya, você é hardcore! (risos).
Estela: Conheço mais sobre o Japão que sobre outros países asiáticos. Quando eu era pequena eu estudava numa “escola japonesa”, a maior parte das crianças era formada por filhos da imensa colônia japonesa de São Paulo. Eu acredito que eu tenha muito dos hábitos da colônia devido a isso. Fiquei nessa escola de um a seis anos de idade. Tenho muitos amigos descendentes. Freqüento a Liberdade, um bairro tradicional da colônia japonesa em São Paulo. Como comida japonesa no mínimo uma vez por semana, mas não os peixes porque sou vegetariana há 13 anos. Gosto dos filmes, da cultura, enfim, acho que conheço um pouquinho.

Pra encerrar, agradeço a atenção e peço que deixem uma mensagem pros japoneses que ainda curtem vocês!
Indayara: Arigato, taihem tanoshikatta dessu
Ga suki dessujapan
Issohoni eigani iki mashoo ka – Encarnação do Demônio!
Poxa, valeu por ouvirem o Infect, sou fã de toda a loucura extrema que rola por aí! Beijos!
Estela: Obrigada por gostarem da gente! Fico muito feliz em saber, me sinto honrada! Beijos à todos!

Contatos:
www.myspace.com/infectspbrazil
www.xinfectx.cjb.net

Links relacionados:
www.625thrash.com

Discografia:
“Demo Ensaio” demo-tape (1999 / Pintocore Records / Brazil)
"Sendo Fogo" demo-tape (2000 / Pintocore Records / Brazil)
“Infect” 7" vinyl (2000 / Cospe Fogo / Brazil)
“Infect & Discarga Split CD” (2000 / SevenEight Life / Brazil)
“Estrépito” 7" (2001 / Commitment / The Netherlands)
“Infect & Wrecker Split CD” (2002 / KillYouForaDollar / USA)
“Indelével” Full length, vinyl 12" and CD (SevenEightlife / Brazil / 625 / USA)